A Literatura Africana de Língua Portuguesa nos faz lembrar o período em que a maior colônia de Portugal - O Brasil, viveu um período de escravidão que durou quatro séculos e que marcou profundamente a formação da sociedade e da cultura do povo brasileiro.
Os escravos eram capturados e comprados na África e, depois, trazidos aos mercados brasileiros, onde eram vendidos. E na África, em cada local onde os portugueses se estabeleceram e criaram colônias, nasceu uma sociedade que foi obrigada a usar a língua portuguesa como meio de comunicação oficial. As línguas nativas continuaram a ser usadas na comunicação diária, mas nas escolas que com o tempo foram sendo criadas só se usava o português, que assim se transformou em língua de cultura nessas regiões.
Somente no fim do século XX, com as guerras da independência, as ex-colônias portuguesas conseguiram se libertar politicamente de Portugal, mas as marcas culturais de tantos séculos permaneceram, e assim o português passou a ser a língua oficial de várias dessas ex-colônias.
O chamado lusófono, isto é, a comunidade dos países de língua portuguesa é formado por: Brasil, Portugal, Timor Leste, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, moçambique e São Tomé e Príncipe. Os cinco últimos países são africanos, ao passo que Timor Leste fica no sudeste asiático.
A marca fundamental da literatura africana de língua portuguesa é sua postura de resistência à dominação estrangeira, de reividicação dos direitos humanos básicos, bem como a denúncia da exploração de que ainda são vítmas as populações mais pobres.
Muita gente se engajou nessa resistência - cantores, pintores, poetas, intelectuais, jornalistas. E, como milhares de africanos foram trazidos ao Brasil na condição de escravos ao longo de vários séculos, boa parte da população brasileira se reconhece nessa resistência, pois, afinal, são descendentes dessas pessoas.
Hoje, graças às facilidades de comunicação, os contatos entre o Brasil e esses países africanos de língua portuguesa são cada vez mais constantes. Escritores e artistas de ambas as partes estão presentes em espetáculos, congressos literários, etc. Livros de escritores africanos começam a ser cada vez mais editados aqui no Brasil. Enfim, embora o processo de integração cultural seja lento, ele é constante e deve continuar porque nos enriquece a todos. Por isso, é importante encerrar esse artigo com alguns exemplos de literatura africana produzida em língua portuguesa.
SOU NEGRO
À Dione Silva
Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh´alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gonguês e agogôs.
Contaram-me que meus avós
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
e plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.
.
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Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso.
humilde e manso.
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou.
Na minh´alma ficou
o samba
o batuque bamboleio
e o desejo de libertação.
TRINDADE, Solano. Poemas antológicos de Solano Trindade
São Paulo: Nova Alexandria, 2008.p.162-163.
DESCOBERTA
Após o ardor da reconquista
não caíram manás sobre os nossos corpos.
E na dura travessia do deserto
Aprendemos que a terra prometida
era aqui.
Ainda aqui e sempre aqui.
Duas ilhas indómitas a desbravar.
O padrão a ser erguido
pela nudez insepulta dos nossos punhos.
LIMA, Conceição
São Tomé e Príncipe.
FONTE:
SACRAMENTO, Leila Lauar e TUFANO, Douglas,
Português - Literatura, gramática e Redação, 1ª ed,
São Paulo, Moderna, 2010.
Ótimo texto, muito bom mesmo!
ResponderExcluirUsei ele para fazer meu trabalho escolar, muito obrigada :)
Texto muito bom!
ResponderExcluirThammy
ResponderExcluirThammy
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